sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Ética no Jornalismo - Entrevista com Rogério Christofoletti




São muitos os tipos de erro que um ombudsman pode encontrar analisando seu meio de comunicação: erros de apuração, erros gramaticais, erros de edição e outros. 

Assim como em toda profissão, muitos dos jornalistas não seguem o código de ética do gênero, sendo assim, a presença de um ombudsman pode ajudar a evitar que esse tipo mais grave de erro aconteça. Pensando na colaboração para o crescimento do jornalismo, o MídiaVisão entrevistou o jornalista Rogério Christofoletti, professor, pesquisador e autor de diversos livros, entre eles, “Ética no Jornalismo”. Confira:


Rogério Christofoletti. Foto: André Lacasi

MídiaVisão: Com a não obrigatoriedade do diploma, na sua opinião, haverá um crescimento no número de profissionais antiéticos?
Rogério Christofoletti: O que determina se um profissional é antiético ou ético não é o diploma que ele pode vir a portar. Seguir padrões de conduta, cultivar valores, ter preocupações com seus atos, refletir sobre o seu agir vai muito além de simplesmente frequentar a escola. A formação ética de uma pessoa passa por diversas fases e por vários grupos sociais. Por isso, não depende do diploma. Se fosse assim, poderíamos ficar tranquilos quando chegamos a um consultório médico e observamos o diploma dele pregado na parede. Ora, é um médico formado, então, não preciso me preocupar com algum desvio ético dele… não é tão simples assim. Todavia, é importante ter uma formação sólida do ponto de vista dos conhecimentos práticos, dos teóricos e dos profissionais. Na universidade, o estudante tem uma ótima oportunidade de discutir esses aspectos, de simular situações-limite, de experimentar caminhos. 

MídiaVisão: Você acha que existe algum problema no modo em que a ética é ensinada nas faculdades?
Rogério Christofoletti: Vejo alguns problemas sim. O primeiro deles é resultado de uma grande contradição: professores, alunos e gestores de ensino – todos! - dizem que a formação ética é importante, crucial para os profissionais. No entanto, se você for observar os currículos dos cursos notará que a disciplina é oferecida em dois ou quatro créditos apenas, que é oferecida muitas vezes por advogados, filósofos ou padres (profissionais que nunca pisaram numa redação e, portanto, desconhecem os dilemas práticos do jornalismo), que é oferecida junto com conteúdos jurídicos (o que reduz ainda mais a sua carga horária), entre outros aspectos. Um dos argumentos mais usados é que ética é um conteúdo transversal e ele deve perpassar todos os demais. Ótimo. Mas não é assim que se vê por aí. Defendo que esses conteúdos sejam oferecidos com mais generosidade e atenção nos cursos.

MídiaVisão: Até que ponto o ombudsman pode contribuir para o leitor confiar no jornal?
Rogério Christofoletti: Pode contribuir na medida em que faz o seu trabalho bem, exercendo uma crítica que exponha as fragilidades do jornal e seus profissionais e que contribua para o seu aperfeiçoamento. O ombudsman não pode atuar como um buldogue do jornal; nem como seu marqueteiro...

MídiaVisão: Os jornalistas lidam com as críticas que recebem de uma maneira diferente dos outros profissionais?
Rogério Christofoletti: Não sei dizer outros profissionais, mas jornalistas são bastante refratários às críticas. Geralmente, somos muito bons para apontar os problemas dos outros, os erros alheios, as fraquezas de terceiros. Quando alguém aponta para o nosso lado, geralmente, ficamos muito irados e conclamamos o mundo em prol da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa. O Eugenio Bucci - em Sobre Ética e Imprensa (Cia das Letras, 2000) - chamou esse comportamento de Síndrome de Autosuficiência Ética; também comento um pouquinho isso no meu Ética no Jornalismo (Contexto, 2008).

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