Quando
se fala em ombudsman, muitos
pensam apenas em jornalismo impresso, mas esse profissional já foi encontrado
em outras mídias. Um exemplo disso é a TV Cultura, que foi a primeira
emissora do Brasil a criar o cargo, mas a experiência não foi bem-sucedida.
Em 2004, a TV Cultura contratou o jornalista Osvaldo Martins, fundador do Instituto Brasileiro de Estudos de Comunicação e mais de 40 anos de carreira no currículo. Com apenas dois anos no cargo, Martins foi dispensado. Mas, o curto período não é estranho na profissão de um ombudsman. A Folha de S. Paulo, por exemplo, institui mandato de apenas um ano para cada profissional e esse mandato (durante o qual o ombudsman não pode ser demitido) pode ser renovado apenas duas vezes.
Após a saída de Martins, a TV Cultura ficou dois anos sem ombudsman, até a contratação do jornalista Ernesto Rodrigues, que por sua vez, ocupou o cargo até Julho de 2010, quando foi dispensado e seus textos removidos do site da emissora.
Em Abril de 2012, a Folha de S. Paulo noticiou no site F5, que segundo a assessoria da TV Cultura, o cargo havia sido extinto, mas horas depois a própria emissora negou a informação. De qualquer modo, o cargo não foi preenchido até hoje.
Para falar sobre o ombudsman na televisão, conversamos com o jornalista Gabriel Priolli, que já foi apresentador, editor e diretor de diversos programas jornalísticos e iniciou sua carreira como repórter da própria TV Cultura.
Gabriel Priolli. Foto: Fernando Carvalho (MídiaVisão)
MídiaVisão - Você acredita que o ombudsman pode funcionar na televisão brasileira?
Gabriel
Priolli - Tenho dúvidas. A única
experiência conhecida, da TV Cultura, foi implementada muito mais como um cargo
político, para acomodação de partidários do governo de turno, do que como uma
ferramenta de crítica e qualificação da emissora. A radiodifusão brasileira não
tem tradição nem vocação democrática. É fortemente autocrática, é a voz do
empresariado que controla o segmento, e é muito pouco permeável à contestação,
ao conflito de ideias, ao debate plural.
A presença de um ombudsman como representante do público e, eventualmente, como porta-voz de opiniões e demandas contrastantes incomoda a empresa de radiodifusão. Por isso, elas não implementam a função. Pessoalmente, considero mais importante trabalhar por mecanismos regulatórios, estabelecidos em leis e portarias, que obriguem as emissoras a obedecer alguns parâmetros mínimos de diversidade e interesse público. Não confio em autorregulamentação de um setor que, historicamente, resiste a qualquer forma de regulação.
A presença de um ombudsman como representante do público e, eventualmente, como porta-voz de opiniões e demandas contrastantes incomoda a empresa de radiodifusão. Por isso, elas não implementam a função. Pessoalmente, considero mais importante trabalhar por mecanismos regulatórios, estabelecidos em leis e portarias, que obriguem as emissoras a obedecer alguns parâmetros mínimos de diversidade e interesse público. Não confio em autorregulamentação de um setor que, historicamente, resiste a qualquer forma de regulação.
MídiaVisão - A que você credita a experiência da TV Cultura com ombudsman ter falhado?
Gabriel
Priolli - Ao fato de que o cargo
foi politizado desde a criação. No primeiro embate mais consistente entre o
ombudsman e a emissora, quando ele fez críticas profundas que afetavam a relação
da emissora com o governo, foi ejetado por ambos.
MídiaVisão - O que impede que o serviço do ombudsman se popularize no país?
Gabriel
Priolli - A desconfiança da sua
real utilidade, ou a certeza de que a mídia é muito pouco permeável à crítica e
totalmente avessa a retratações, desculpas, reparações. Por que o público deve
recorrer a um ouvidor, se não será objetivamente ouvido pela empresa da qual
reclama? Se será apenas enrolado com justificativas formais? A utilidade real
da função - fazer o veículo corrigir erros e evitar outros - inexiste no
Brasil, na maioria dos casos.
Reitero,
dessa forma, a minha desconfiança de quaisquer mecanismos de autorregulação da
mídia, como o ombudsman. Só a lei e a possibilidade de prejuízos, financeiros e
morais, decorrentes de processos judiciais, podem controlar a prepotência e o
abuso de poder da mídia. Que são extremos, num país onde o Estado não controla
os meios de comunicação - e sim o contrário.
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