Ombudsman profissão em extinção?

Confira entrevista exclusiva do ex-ombudsman da Folha, Mário Magalhães

Jornalismo na Internet: Agilidade x credibilidade

Confira artigo escrito por Horácio Busolin Junior

Ombudsman na TV

O jornalista Gabriel Priolli fala sobre o assunto

Ombudsman?

O que é ombudsman? Conheça as origens deste cargo de grande importância para o jornalismo

Ética no Jornalismo

Confira entrevista exclusiva com Rogério Christofoletti

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Críticas de Leitores


Durante esses meses, o MídiaVisão abriu espaço para receber dúvidas e críticas de leitores sobre os meios de comunicação da região.

A leitora Fatima Ganzarolli Zago nos enviou o seguinte no final de Outubro:

"Esse Jornal (O Liberal) tem que tomar cuidado com os erros de português, é um jornal, tem que dar exemplo de um bom português. Sempre vejo erros. Cuidado!"
Especificamente, a leitora enviou dois exemplos de erros (aparentemente de digitação) do Jornal O Liberal:




Já o leitor Ricardo Nascimento enviou o seguinte no ínicio de Novembro:

"
O que mais me preocupa é que os dois maiores jornais de Americana e região não são apartidários.
É visível a forma como um defende e o outro ataca a atual administração. Podemos ver, por exemplo, a manchete publicada no dia 31/10/2013 sobre a cassação do Prefeito de Americana.

LIBERAL:
Deu a notícia com letras bem menores que a manchete principal (dando menos importância para o assunto) e citou de maneira a entender que o Prefeito “safou-se” temporariamente.
“DIEGO CONSEGUE SUSPENDER SENTENÇA”

TODODIA:
Estampou em letras grandes e como matéria principal – dando a ideia de que Diego De Nadai saiu vitorioso.
“TRE ACATA RECURSO E DIEGO FICA ATÉ DECISÃO DO TSE” "
 









O MídiaVisão entrou em contato com os jornais citados alguns dias após as críticas serem recebidas mas apesar disso, até hoje não houve resposta. Com isso, este blog pretende mostrar novamente a importância de um ombudsman para entrar em contato com o leitor e responder qualquer pergunta, receber qualquer crítica, não apenas responder e publicar o que for selecionado no espaço dedicado a cartas do leitores nos jornais.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Entrevista com Erivaldo Carvalho - Ombudsman do jornal O Povo


A Folha de S. Paulo foi a primeira a ter um cargo de ombudsman no país mas atualmente, não é a única. O jornal O Povo, de Fortaleza tem o cargo desde 1996 e atualmente está em seu 13º ombudsman: Erivaldo Carvalho.

O MídiaVisão teve uma conversa com ele sobre a situação do ombudsman no país, entre outros assuntos.


Erivaldo Carvalho, ombudsman d'O Povo - Foto: Foto: Evilázio Bezerra


MídiaVisão: Como é a interação com os leitores? A internet facilita ou dificulta o trabalho?

Erivaldo Carvalho: A interação dá-se, principalmente, por telefone, via internet e, esporadicamente, através de visitas de leitores à sede do jornal. Quando esta última hipótese acontece, geralmente é algum documento ou material escrito que leitores querem me repassar, para eu encaminhar à Redação, ou para abrir algum canal de diálogo com uma área de cobertura específica. Pode ser, ainda, uma pauta que, aos olhos daquele leitor ou grupo, não está condizente com o que eles consideram razoável. Por regra, são matérias com supostos problemas de apuração ou foco, por exemplo, que suscitem algum tipo de prejuízo a quem está reclamando. Também sou abordado em rodas de conversa fora da empresa ou em eventos públicos que tenha algum tipo de relação com a imprensa. Mas estes casos são muitos raros, já que, no exercício do mandato, tenho procurado circular pouco.



A segunda parte da pergunta já está, parcialmente, respondida. Mas reforço que, assim como qualquer outra atividade jornalística, a função do ombudsman é impensável, nos dias de hoje, sem a internet. Ela serve para tudo. Desde a possibilidade de checar uma informação, cruzando-a ou fazendo comparativos, ao acompanhamento de determinadas coberturas no online. Somos um grupo que controla um jornal, rádios, TV e portal. Passei por estas plataformas, antes de assumir o mandato. Procuro, com a experiência adquirida em cada uma delas, ter uma visão panorâmica desses conteúdos. Por exemplo: o que sai hoje no portal será comparado com o impresso amanhã e com o que vai para a rádio e TV. Por que estou dizendo tudo isso? Porque tudo isso pode ser acompanhado pela internet. Tudo está lá.



Um terceiro aspecto, além da convergência citada acima, é a interação e a interatividade com os leitores/internautas/ouvintes/telespectadores, possibilitadas pela internet. Sem mencionar que recebo e-mails do público em geral e dialogo com os setores do grupo, principalmente a Redação, através da grande rede.



MídiaVisão: Qual é o maior desafio da profissão?

Erivaldo Carvalho: Ombudsman não é profissão. É função. De maneira geral, e creio que essa realidade não é restrita ao Ceará, as redações estão passando por uma forte reestruturação. Todos estamos numa travessia, que ninguém sabe, exatamente, onde vai dar. Os próprios cursos de jornalismo, de alguma forma, refletem isso. O fato é que as empresas estão diversificando a produção de conteúdos por um lado, e enxugando processos, por outro. Hoje, temos uma drástica redução da faixa etária nas redações e o encolhimento do jornal. O dado não é científico. Mas percebo sinais de queda na qualidade e no tamanho das coberturas. E tem a internet, que se por um lado facilita a vida de qualquer jornalista (até do ombudsman), por outro esvazia as demais plataformas. Está em curso um silencioso debate sobre como monetarizar esse novo momento. No meio de tudo isso há o público, que banca as contas e que jamais posso perder de vista. O maior desafio, então, é esse: tentar convencer a todos quantos fazem o grupo dos riscos inerentes a transformações, como essas citadas acima. Mudanças a curto prazo podem trazer prejuízos irreversíveis no futuro. Para as empresas e o jornalismo.



MídiaVisão: O que você sente que conseguiu mudar no Povo? Quais tem sido seus ganhos?

Erivaldo Carvalho: Há mudanças de vários níveis. Lembro-me de um colega de Redação (hoje aposentado) que quando estava ombudsman, sempre conversava comigo. Uma vez lhe falei que achava muito curioso quando o jornal publicava, para avisar de alguma mudança na edição, os famosos “Avisos aos Leitores”. Eu lhe perguntava: o restante do jornal é para quem? Desde então, quando se faz necessário, temos apenas o “Aviso”. Pode ser algo assim, bem simples, mas de muita importância, porque diz respeito ao conjunto de controle de qualidade que todo veículo de imprensa deve ter. Algumas mudanças nem é questão de estilo de quem escreveu ou de capricho do ombudsman. É, basicamente, a diferença entre o certo e o errado. Aí não há negociação. Por exemplo: não dá para se publicar notícias policiais sem nenhuma distinção do que seja roubo, furto e assalto. Cada crime carrega um conceito bem distinto, com dimensões e implicações bem aplicáveis; não dá, também, para se dizer que há um cruzamento entre duas avenidas, quando lá é um entroncamento. É muito diferente. 



Essas são mudanças de comportamento e visão que procuro colocar para a Redação. Quais sejam? Simples: chamar as coisas pelo nome certo. Quando isso não acontece, todo o resto estará comprometido. Se um repórter ou editor não sabe a diferença básica entre elementos que acabei de citar, o que ele faz em um jornal escrevendo ou editando sobre o assunto? 



Há mudanças mais sofisticadas, como numa outrora penosa cobertura na área de veículos, onde cada repórter parecia ter uma quase patológica necessidade de elogiar todo e qualquer modelo de carro que as montadoras lançavam. Só porque foi convidado para o evento, com passagens e hotel pagos. Aí vem aquele dilema. “Fui convidado, possou ou devo criticar”? Insisti muito nesse ponto, inclusive nas colunas externas, publicadas aos domingos. Tenho percebido evolução. Membros da Redação já me admitiram que meus puxões de orelha colaboraram.



Meus ganhos tem sido uma visão mais integrada do processo de produção da notícia. Hoje, vendo mais a floresta do que a árvore, valorizo aspectos da cobertura que antes tinha um peso diferente na minha cabeça. Antes de assumir o mandato de ombudsman tinha sido repórter, editor adjunto e colunista de política e, na sequência, editor-executivo do portal O POVO Online. Nesse ínterim, mediei um programa de debates em uma das rádios do grupo e fui comentarista na TV, também de política. Estar ombudsman me ajudou a integrar essas linguagens, canalizando-as para o ponto de vista do público.  



MídiaVisão: Qual a situação do ombudsman no Brasil em relação aos outros países?

Erivaldo Carvalho: Não tenho uma resposta pronta e acabada para essa questão. Por vários fatores. Entre eles, o fato de a imprensa, aqui e lá fora, está passando por grandes transformações, na forma e no conteúdo, e de haver muitas distorções. Até pelas barreiras da língua, o jornalista mediano brasileiro acompanha muito aquém o panorama profissional no Exterior. Vejamos alguns dados que mostram isso. 



Países asiáticos detêm mais de dois terços dos 100 maiores jornais do mundo. Títulos dos quais nós pouco ouvimos falar. Os três maiorais são japoneses. O Yomiuri Shimbun imprime dez milhões de exemplares. O segundo colocado (Asahi Shimbun), oito milhões e o terceiro, (Mainichi Shimbun), uns quatro milhões. Ou seja, os “Shimbun” somam uns 22 milhões de exemplares. Para efeitos de comparação, a circulação do Wall Street Journal é de 2 milhões de exemplares e o USA Today, uns 2,6 milhões. Como temos parâmetros muito diferentes de escala, cultura, taxas de leitura e da compreensão do que seja um ombudsman, por exemplo, qualquer comparação poderá ficar comprometida. 



Em todo o caso, estima-se que cerca de 200 jornais em todo o mundo, dos dezenas de milhares, mantenha a figura do ombudsman. Mas esse perfil munda. Há organizações que acompanham o trabalho na imprensa em nível mundial, mas geralmente focam em outros itens, como liberdade de expressão e violências cometidas contra profissionais da imprensa. Mas essa é outra discussão. Ter ou não ter ombudsman (e de que tipo) tem muito a ver com o formato de jornalismo que se pratica em cada país e até mesmo com os ganhos imediatos que as empresas pensam em obter, ao manter um posto do tipo. Veja que no Brasil, depois que o jornal Folha de S.Paulo instalou o ombudsman, em 1989, vários outros diários lançaram a ideia (O Dia, O POVO, Correio da Paraíba e Diário do Povo). Vinte e cinco anos depois, só os jornais paulistano e cearense os mantém. 



MídiaVisão: O senhor tem liberdade para tratar sobre qualquer tema em sua coluna?

Erivaldo Carvalho: Sim. Estou caminhando para a reta final do mandato. Até hoje, não recebi qualquer tipo de sinal, direto ou indireto, por qualquer meio, de que meu trabalho esteja ameaçado ou que alguém tenha tentado impedir. Até porque isso não pode acontecer. Tenho liberdade de abordar qualquer assunto. Do excesso de erros que cometemos, em todos os níveis, a temas que dizem respeito, diretamente, aos interesses maiores da empresa. Pode-se dizer que a figura do ombudsman no Grupo de Comunicação O POVO pode até abrir opiniões, mas é respeitada. Até pelos anos que já se passaram (existe desde 1994). Tenho garantias para o exercício do mandato. Tenho autonomia plena. A coluna que escrevo vai direto para a página. Não pode ser alterada ou editada sob hipótese alguma, por ninguém. Em termos executivos, não tenho subordinados, mas também não sou subordinado a ninguém dentro da empresa. Se, por ventura, eu cometer erros de qualquer natureza, certamente terei de responder por eles. Mas a publicação é garantida. Há situações, claro, em que a Redação não compreende ou reage negativamente ao meu trabalho. Tanto na coluna externa quanto na avaliação da edição, que faço cotidianamente, em relatórios internos. Mas aspectos assim fazem parte da natureza do trabalho. Está no preço de ser ombudsman. É do jogo. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Ombudsman profissão em extinção?


Será que a profissão de ombudsman está com os dias contados? Afinal, com o público utilizando as redes sociais para reclamar da imprensa, qual será o papel do advogado do leitor?

Essas questões vieram à tona e fomentam discussões sobre o futuro do ombudsman de imprensa. Em 2012, a imprensa americana foi pega de surpresa, quando a Publisher do Washington Post, Katharine Weymouth, anunciou o fim do cargo de ombudsman, que perdurou por 43 anos. A função criada na imprensa pelo próprio Post foi trocada por um “representante do leitor”, que apenas anota as reclamações e as repassa a seus editores. A justificativa, segundo o editor Marty Baron, foi que na era virtual, o jornal já possui uma rede de leitores e críticos de mídias dispostos a apontar os erros do jornal, tornando o ombudsman um cargo não necessário e muito custoso.

Para esclarecer essas questões, o blog MídiaVisão conversou com um especialista na área: o ex-ombudsman Mário Magalhães. O jornalista, que passou por jornais como “Tribuna da Imprensa”, “O Globo”, “O Estado de S. Paulo”, foi ombudsman da Folha de S. Paulo entre os anos de 2007 e 2008. 

Mário Magalhães foi ombudsman da Folha de 2007 a 2008. Foto: Ana Carolina Fernandes/Companhia das Letras

Mídiavisão - Atualmente no Brasil, existem apenas dois jornais que ainda contam com ombudsman. Panorama bem diferente dos EUA que contam com profissionais em 20 jornais, segundo a ONO (OrganizationofNews Ombudsmen). Porque o cargo ainda não decolou em terras brasileiras?
Mário Magalhães - Há vários motivos para a não disseminação de ombudsmans no jornalismo brasileiro. É uma função cara, que exige profissionais experimentados e estrutura que lhes dê respaldo. Quando eu exerci a função na “Folha de S. Paulo”, de abril de 2007 a abril de 2008, o atendimento médio era de cem leitores por dia.
Outro motivo é que muitas Redações consideram mais efetivo manter equipes para receber reclamações e demandas dos leitores sem a intermediação de um ombudsman. Há quem julgue que hoje as redes sociais da internet são instrumentos suficientes para a relação jornal-leitores.
Mas o motivo principal para a existência de poucos ombudsmans, em minha opinião, é a resistência atávica do jornalismo e dos jornalistas a serem criticados. Nós adoramos criticar os outros e odiamos ser criticados.
A maior novidade mundial dos últimos anos, no cenário dos ombudsmans do jornalismo, é o extermínio da função nos Estados Unidos, onde dezenas de publicações aboliram o cargo. O argumento mais recorrente é o da crise do modelo de negócios que abate o jornalismo impresso norte-americano e sangra suas finanças. A tendência internacional é cada vez haver menos ombudsmans. Ombudsman jornalístico é uma espécie em extinção.

MídiaVisão - Em uma sociedade em que os leitores e internautas podem reclamar do jornalismo das mídias tradicionais nas redes sociais, qual papel o ombudsman pode exercer na crítica de mídia?
Mário Magalhães - O ombudsman faz a crítica jornalística com base nos valores consagrados na publicação em que trabalha. No caso da “Folha”, o “Manual da Redação” é uma espécie de Constituição. Reiteradamente, eu reivindicava os preceitos do “Manual” ao analisar o noticiário.
A crítica de mídia não é a única nem a principal missão do ombudsman. Eu intermediava a relação dos leitores com a Redação. Se um leitor criticava aspectos da cobertura, eu não sossegava até obter uma resposta dos jornalistas. Ao procurar o ombudsman, os leitores sabem que terão um defensor a intermediar suas demandas, mesmo que o ombudsman divirja delas.
Se um leitor reclama pela internet, pode ou não receber uma satisfação dos jornalistas. Se procurar o ombudsman, ele seguramente receberá, mesmo que não se sinta satisfeito com o que ouvir.

MídiaVisão - Você acha que o jornalismo desintermediado produzido em blogs de notícia e redes sociais pode ameaçar a imprensa tradicional? Como você avalia a qualidade do jornalismo produzido na plataforma digital?
Mário Magalhães - Hoje eu escrevo para a mídia impressa e, sobretudo, para a digital, na qual mantenho um blog no UOL. Há jornalismo de qualidade e de má qualidade em todas as plataformas de comunicação.

MídiaVisão - É certo dizer que o ombudsman cumpre o papel de educador para as mídias?
Mário Magalhães - Um ombudsman pode e deve educar os jornalistas sobre os desejos e apreensões dos leitores/espectadores/internautas/ouvintes, bem como educar os leitores sobre como funciona o jornal. Na minha experiência de um ano, sou obrigado a confessar, quem mais aprendeu fui eu com os leitores, evidentemente.



segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Porque há tão poucos ombudsman?


Como já foi visto várias vezes neste blog, são várias as vantagens de se contratar um ombudsman: aumento da credibilidade e interação com o leitor, ouvinte, telespectador ou internauta, são algumas delas. Apesar disso, são pouquíssimos os meios de comunicação que possuem este profissional: A Folha de S. Paulo, O Povo e as emissoras da EBC, Empresa Brasil de Comunicação.
Há ainda casos como o da TV Cultura, em que o ombudsman foi implementado mas não deu certo, segundo especialistas, pela TV não permitir que o profissional exercesse sua função em plenitude.

Quando se pergunta aos representantes de um meio de comunicação as vantagens que um ombudsman daria a tal meio e porque um não é contratado, raramente se obtém uma resposta a não ser pessoalmente.

Marco Massiarelli durante o 11º Simpósio de Jornalismo da Unimep - Foto: Luana Ruiz
Conversamos com o jornalista Marco Massiarelli, diretor da CBN Campinas sobre o assunto durante o 11º Simpósio de Jornalismo da Unimep e a conversa pode ser ouvida abaixo na íntegra.

 


Também conversamos sobre o tema com o jornalista Wilson Marini, editor-executivo da APJ, Associação Paulista de Jornais.

MídiaVisão - Quais são os maiores ganhos de um jornal ao contratar um ombudsman?
Wilson Marini - Se o programa for bem executado, se trata de uma ferramenta a serviço da própria Redação, que terá em tempo integral um profissional equidistante da rotina diária e sem envolvimento na produção, mas experiente, e que irá defender o trabalho jornalístico nos pontos em que for questionado incorretamente. Ao mesmo tempo, irá mediar a solução de eventuais falhas, o que colaborará para a melhoria da qualidade do próprio trabalho jornalístico. Perante o público leitor, o ombudsman representa um ganho de credibilidade à medida que demonstra na prática a disposição do veículo de ser transparente e rever posições e informações quando estiver equivocado.

MídiaVisão - Todos os jornais deveriam ter esse profissional? Seria viável para jornais de pequeno e médio porte?
Wilson Marini - Não necessariamente. A contratação de um ombudsman não é a única estratégia de controle de qualidade, nem é imprescindível a meu ver, se existirem programas internos que façam a auto-crítica e permitam a abertura da Redação para a revisão de suas publicações no sentido de corrigir erros e rotas. E também manter canais abertos aos leitores. Em relação aos jornais de pequeno e médio porte, seria preciso analisar caso a caso. Mas em geral não se trata de custo, mas da disposição de manter um ombudsman. É uma instituição relativamente nova na imprensa brasileira e com poucas experiências. A tendência tem sido a de criar e fortalecer canais de comunicação com os leitores. 

Wilson Marini, da APJ - Foto: Larissa Lima


MídiaVisão -  Qual é a importância de um espaço no jornal para se falar sobre os erros cometidos pelo jornal, na falta de um ombudsman? 
Wilson Marini - Os erros formais devem ser retificados e com clareza, em espaços apropriados para isso. De forma geral, os jornais têm aperfeiçoado mecanismos desse tipo, por meio das erratas ou refazendo a matéria de modo a contemplar num segundo momento uma visão ou uma declaração que ficou prejudicada. Internamente, é importante que haja disposição para ouvir os leitores e as fontes que se sintam prejudicadas e tomar providências dentro de uma conduta técnica. 

Mídia Visão - O que o senhor acha da lei que regulamenta o direito de resposta para pessoas que se sentem ofendidas por reportagem jornalística publicada ou exibida nos meios de comunicação?
Wilson Marini - Desnecessária e inócua na maioria dos casos. Sou mais favorável à auto-regulamentação. A ética não pode ser imposta. A lei somente faria sentido em casos extremos.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ombudsman na TV e a opinião de Gabriel Priolli


Quando se fala em ombudsman, muitos pensam apenas em jornalismo impresso, mas esse profissional já foi encontrado em outras mídias. Um exemplo disso é a TV Cultura, que foi a primeira emissora do Brasil a criar o cargo, mas a experiência não foi bem-sucedida. 

Em 2004, a TV Cultura contratou o jornalista Osvaldo Martins, fundador do Instituto Brasileiro de Estudos de Comunicação e mais de 40 anos de carreira no currículo. Com apenas dois anos no cargo, Martins foi dispensado. Mas, o curto período não é estranho na profissão de um ombudsman. A Folha de S. Paulo, por exemplo, institui mandato de apenas um ano para cada profissional e esse mandato (durante o qual o ombudsman não pode ser demitido) pode ser renovado apenas duas vezes.

Após a saída de Martins, a TV Cultura ficou dois anos sem ombudsman, até a contratação do jornalista Ernesto Rodrigues, que por sua vez, ocupou o cargo até Julho de 2010, quando foi dispensado e seus textos removidos do site da emissora. 

Em Abril de 2012, a Folha de S. Paulo noticiou no site F5, que segundo a assessoria da TV Cultura, o cargo havia sido extinto, mas horas depois a própria emissora negou a informação. De qualquer modo, o cargo não foi  preenchido até hoje.

Para falar sobre o ombudsman na televisão, conversamos com o jornalista Gabriel Priolli, que já foi apresentador, editor e diretor de diversos programas jornalísticos e iniciou sua carreira como repórter da própria TV Cultura.

Gabriel Priolli. Foto: Fernando Carvalho (MídiaVisão)

MídiaVisão - Você acredita que o ombudsman pode funcionar na televisão brasileira?
Gabriel Priolli - Tenho dúvidas. A única experiência conhecida, da TV Cultura, foi implementada muito mais como um cargo político, para acomodação de partidários do governo de turno, do que como uma ferramenta de crítica e qualificação da emissora. A radiodifusão brasileira não tem tradição nem vocação democrática. É fortemente autocrática, é a voz do empresariado que controla o segmento, e é muito pouco permeável à contestação, ao conflito de ideias, ao debate plural. 

A presença de um ombudsman como representante do público e, eventualmente, como porta-voz de opiniões e demandas contrastantes incomoda a empresa de radiodifusão. Por isso, elas não implementam a função. Pessoalmente, considero mais importante trabalhar por mecanismos regulatórios, estabelecidos em leis e portarias, que obriguem as emissoras a obedecer alguns parâmetros mínimos de diversidade e interesse público. Não confio em autorregulamentação de um setor que, historicamente, resiste a qualquer forma de regulação.


MídiaVisão - A que você credita a experiência da TV Cultura com ombudsman ter falhado?
Gabriel Priolli - Ao fato de que o cargo foi politizado desde a criação. No primeiro embate mais consistente entre o ombudsman e a emissora, quando ele fez críticas profundas que afetavam a relação da emissora com o governo, foi ejetado por ambos.


MídiaVisão - O que impede que o serviço do ombudsman se popularize no país?
Gabriel Priolli - A desconfiança da sua real utilidade, ou a certeza de que a mídia é muito pouco permeável à crítica e totalmente avessa a retratações, desculpas, reparações. Por que o público deve recorrer a um ouvidor, se não será objetivamente ouvido pela empresa da qual reclama? Se será apenas enrolado com justificativas formais? A utilidade real da função - fazer o veículo corrigir erros e evitar outros - inexiste no Brasil, na maioria dos casos.
Reitero, dessa forma, a minha desconfiança de quaisquer mecanismos de autorregulação da mídia, como o ombudsman. Só a lei e a possibilidade de prejuízos, financeiros e morais, decorrentes de processos judiciais, podem controlar a prepotência e o abuso de poder da mídia. Que são extremos, num país onde o Estado não controla os meios de comunicação - e sim o contrário.


terça-feira, 5 de novembro de 2013

Jornalismo na internet: Agilidade versus credibilidade


Por Horácio Busolin Junior



O jornalismo online ainda sofre muito com qualidade de texto e análise”- Suzana Singer, ombudsman da Folha de S. Paulo


A plataforma online transformou a maneira de informar e definiu os novos rumos da difusão de notícias. Na internet, o furo jornalístico ganhou mais velocidade e os leitores podem acompanhar os fatos em tempo real. Além disso, outras características mais evidentes desse tipo de jornalismo são a maior interatividade do leitor, pois esse pode interagir com outras pessoas ou até com o próprio jornal.
Há também uma customização ou personalização do conteúdo com o leitor escolhendo o que quer ler na hora que quiser. A hipertextualidade aumenta a variedade de possibilidades de se ver a notícias com o texto acompanhado de vídeos, sons e imagens linkadas a outros sites.
Porém, por ser ágil e instantâneo, o jornalismo online ainda sofre com qualidade de texto. Em entrevista concedida ao Mídiavisão a ombudsman da Folha de S. Paulo Suzana Singer reforçou essa opinião e disse que o jornalismo online ainda tem muito que caminhar para melhorar.
“O jornalismo online tem muitas vantagens. É muito mais rápido e direto. Porém, o online ainda sofre muito com qualidade de texto e análise. O jornalismo em geral vive num momento muito complicado, pois a imprensa precisa investir não só na TV, no rádio e em outro meio, mas também na web. E hoje você fazer investimentos em mais de um meio, em um momento que economicamente não é dos melhores, é difícil”, apontou Suzana.


Para a ombudsman Suzana Singer, o jornalismo online ainda sofre com qualidade de texto e análise. Foto: Fernando Carvalho / MídiaVisão

A necessidade de melhorias na plataforma online da Folha de S. Paulo já era criticada pelos leitores desde o começo do serviço Folha online em 1999. Mudanças e adaptações no site foram críticas do ombudsman Renata Lo Prete em coluna publicada em 21 de novembro de 1999.
Na ocasião, ela dizia que pela possibilidade de atualização contínua, a tendência era que o jornalismo digital superasse o impresso. No entanto, Lo Prete afirmava que desde 1999, a versão eletrônica da Folha ainda era uma versão empobrecida do impresso.
É claro que se você quiser saber mais a finco sobre uma notícia você terá que recorrer ao impresso, com detalhamento melhor da notícia trazendo análises e críticas mais elaboradas. No entanto, uma das vantagens é que o jornalismo digital é mais democrático, pois é mais participativo e interativo, abrindo espaço para vários pontos de vistas provindos de infinitas fontes, que o leitor ou internauta pode acessar a qualquer instante.
A internet proporcionou também a proliferação de vozes e opiniões diversas e a produção intensa do jornalismo colaborativo com fotos e vídeos publicados em blogs de jornalistas independentes. Esse novo fenômeno alterou a maneira do fazer jornalístico. Suzana Singer relatou ao Mídia Visão que os jornalistas da Folha e da imprensa em geral precisam aproveitar esse novo conteúdo como fonte para as matérias.
“Então é preciso criar formas inteligentes de aproveitar essas oportunidades. A gente viu isso na Primavera Árabe, a gente viu isso no momento que o Bin Laden foi preso, e a primeira pessoa que deu a noticia foi no Twitter. Isso esta na mão de todo mundo, só que ainda é preciso descobrir como aproveitar isso de fato e a imprensa tradicional tem que aproveitar isso melhor. Todo mundo tem uma câmera dentro do seu celular, todo mundo sabe filmar, todo mundo sabe essas coisas, você tem que aprender filtrar e trazer isso como vantagem para o meio tradicional”, finalizou Singer.

Conversando com os leitores
O panorama geral da imprensa online nos dias atuais parece não ter mudado. O Midia Visão conversou com leitores de notícias pela internet que apontaram as deficiências e qualidades do jornalismo online. Daniel Brina, estudante de Física da USP (Universidade de São Paulo), cita que o problema do jornalismo na internet é a credibilidade da informação.
“Às vezes tenho receio de confiar totalmente em alguma notícia. Por isso, sempre busco outras fontes pra ter certeza da verdade da informação. Não costumo muito me informar por blogs de notícia. Se tem algo que acho estranho, sempre confirmo a veracidade no site do Terra”, disse Brina.
A opinião do estudante reitera que os meios de comunicação ainda são detentores de credibilidade e servem de oráculo da verdade. Em entrevista para o Mídiavisão o ex-ombudsman Mário Vitor Santos revela que a credibilidade ainda é a única arma que meios tradicionais possuem para combater a desinformação e a multiplicação dos blogs de notícia. “A única coisa que pode sobrar pros veículos, a médio prazo, é a credibilidade. Porque eles serão ultrapassados pela tecnologia, mas essa tecnologia sempre é, e vai poder ser questionada”, pondera o ex-ombudsman.
No entanto, mesmo os portais ditos os “oráculos da verdade” também estão sujeitos a erros. O músico André Verona, que também usa a internet para se informar, diz que os sites de notícia ainda pecam muito pela má qualidade dos textos. “Na maioria das vezes os textos são bons. Porém, os erros de português e de digitação ainda persistem. Exemplo é o G1 – O portal de Notícias da Globo que passa dos limites!”, reclama Verona.
Além disso, o músico disse também que o grande problema do jornalismo online é o excesso de sensacionalismo. “Acho sensacionalista e duvidoso. Tanto, que tenho até dificuldades para confiar no que leio. Tenho sempre que buscar diversas fontes”, completa.
Já o empresário Eduardo Bueno destaca pontos positivos para o jornalismo online. “Eu gosto do jornalismo produzido na internet. O acesso a informação é bem mais rápido e podemos buscar a mesma informação em vários sites diferentes para poder entender melhor”, diz Bueno.
No entanto, ele aponta como pontos negativos, o excesso de propagandas dos portais. “Tem sites em que você precisa ficar procurando as notícias no meio de uma infinidade de propagandas. Isso acaba irritando um pouco”, contesta. Além disso, ele reitera que os sites de notícia são inconstantes e primam por vezes dar mais ênfase ao entretenimento do que ao jornalismo.

Blogs versus meios tradicionais
O leitores entrevistados pelo Mídia Visão também disseram que preferem os meios tradicionais para se informar do que os blogs noticiosos. Daniel Brina prefere se informar pelos portais convencionais como os sites G1 e UOL. Porém, quando o assunto é humor, ele prefere os blogs do gênero.
O empresário Eduardo Bueno, também corrobora desta opinião. “Sempre fico nos meios tradicionais, uso blogs só quando alguma coisa me interessa mais. Ultimamente tenho buscado mais informações sobre meu trabalho em blogs de negócios e economia”, disse Bueno.
O jornalista e designer gráfico João Mauro de Assis, mais conhecido como Johnny Mau, também procura a veracidade dos fatos em meios tradicionais como o Último Segundo, do portal IG. O jornalista aponta que a maioria dos blogs não tem qualidade e que quando procura esse meio para se informar sobre música ou arte, verifica antes o nível de conhecimento de quem escreve os posts.
“Muitos blogueiros acabam criando os seus apenas para ter uma porta de entrada nos espaços VIPs de eventos, como o SPFW, Salão Duas Rodas, etc. Acabam falando de um assunto que não domina. Quando resolvo seguir um blog, procuro saber qual o nível de conhecimento de quem o escreve. Já li muito material com erros crassos e sem nenhum tipo de embasamento ou pesquisa”, disse o jornalista.
No entanto, há quem prefira se informar utilizando a mídia alternativa produzida pelos blogs independentes. O músico Augusto Meneghin é cético em relação aos meios de comunicação tradicionais, que para ele manipulam a opinião pública.
“Penso que a mídia tradicional reproduz um discurso alienante, feito para manter as pessoas dentro dos padrões do capitalismo, ou seja: ela defende os opressores, a polícia, incriminando trabalhadores e as minorias. Somente isso já faz com que qualquer notícia vinda desses meios me soe como pura manipulação”, afirma.


Mário Vitor Santos, ex-ombudsman da Folha de S. Paulo, afirma que os meios de comunicação tradicional ainda exercem influência sobre a mídia independente. Foto: Fernando Carvalho / MídiaVisão

Manipulação ou não, para o ex-ombudsman Mário Vitor Santos os meios de comunicação tradicionais ainda são responsáveis pelo grosso da apuração de notícias e pautam boa parte dos assuntos discutidos em blogs e nas redes sociais.  
“A ideia de que as redes sociais constituem um veículo para informação absolutamente pura e desligada dos meios tradicionais parece que não se confirma. As redes sociais dependem muito daquilo que é apurado pelos veículos profissionais, que investem grandes quantias no sentido da apuração da informação, pelos canais tradicionais de circulação da informação”, pondera o ex-ombudsman